PriestmanGoode cria embalagens reutilizáveis com casca de grãos de cacau
Utilizando a casca do grão de cacau, a empresa inglesa criou as embalagens com foco na redução da quantidade de resíduos produzidos na entrega de alimentos
De acordo com um relatório de 2019 publicado pela Azoth Analytics, o mercado de entrega e entrega de comida online vale cerca de R$270.93 bilhões por ano globalmente. E essa receita pode oferecer um insight na quantidade de resíduos produzidos pelo setor, que só cresceu com a pandemia de coronavírus. Necessárias tentativas de tornar o mercado de alimentos menos poluente já aconteciam mesmo antes desse período, por exemplo a proibição de distribuição de talheres, copos e pratos de plástico, por parte da prefeitura de São Paulo em janeiro de 2020.
Também com esse urgente cenário em mente, a PriestmanGoode, empresa com sede em Londres, na Inglaterra, desenvolveu o conceito Zero, um sistema de entrega de alimentos que encoraja os consumidores a usar e devolver recipientes de bioplástico para restaurantes com comida para viagem. Os potes e bolsa seriam feitos de materiais sustentáveis, como cascas de grãos de cacau, micélio e casca de abacaxi. As caixas de Zero teriam um sistema de empilhamento no estilo bento, eliminando a necessidade de tampas individuais colocando cada recipiente em cima do outro, com a base de um atuando como tampa para o outro.
O sistema funcionaria com base na recompensa do cliente: os compradores pagariam uma pequena taxa pela embalagem ao pedir a comida, que seria reembolsada na próxima entrega, quando os recipientes fossem devolvidos ao provedor de serviços de entrega. Projetada para ser transferível entre restaurantes, a embalagem seria então lavada pelo próximo fornecedor de alimentos antes de ser usada novamente.
O estúdio iniciou o projeto antes do surto global de coronavírus, mas ele só se tornou mais relevante à medida que os restaurantes se voltaram para o delivery para atender os clientes de uma forma socialmente distanciada. “É uma oportunidade para o design criar algo que possa contribuir para um sentido de ocasião, que seja bonito, prático e sustentável. Como sociedade, temos que nos afastar de uma cultura de descartáveis e nos concentrar nos princípios da economia circular.” disse o diretora associado de estratégia da PriestmanGoode Jo Rowan ao Dezeen.
A PriestmanGoode pesquisou vários materiais seguros para alimentos que poderiam substituir os recipientes de plástico usados atualmente para refeições e entregas para viagem e testou-os quanto a qualidades como resistência ao calor, leveza, reciclabilidade e isolamento. A equipe colaborou com uma série de designers para trabalhar com materiais mais sustentáveis, entre eles Paula Nerlich, que desenvolveu um bioplástico feito a partir de subprodutos da indústria do cacau para compor o corpo das embalagens.
O material é parcialmente feito de cascas de grãos de cacau, que é um subproduto da produção industrial do chocolate, separado do grão durante o processo de torra. O estúdio de design Ty Syml idealizou o uso de micélio para isolamento na sacola de entrega para viagem, enquanto Piñatex – uma alternativa de couro feita de fibras de celulose extraídas de folhas de abacaxi – seria usado para a tampa da sacola.
Uma borracha do tipo neoprene à base de plantas chamada Lexcell, desenvolvida pela Yulex , seria usada para recipientes de alimentos e alças de bolsas. A parte externa da sacola seria composta de material biodegradável Nuatan da Crafting Plastics , feito de amido de milho, açúcar e óleo de cozinha residual, que pode suportar altas temperaturas. A designer Margarita Talep também foi selecionada para trabalhar com a empresa na criação de materiais à base de algas que substituiriam o filme aderente atualmente usado para evitar derramamentos.
O conceito foi desenhado como parte do projeto Re-Made da revista Wallpaper e será exibido no Salone del Mobile em 2021 como parte de uma exposição dedicada ao projeto da publicação.