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Lixo x Resíduo x Rejeitos: entenda as diferenças entre os termos

Especialista em gerenciamento de resíduos, a arquiteta Veronica Polzer explica os três termos e as formas sustentáveis de lidar com cada um deles

Por Nádia Sayuri Kaku
14 Maio 2021, 16h30
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(Divulgação/CASACOR)

Com mais de 14 anos de experiência no desenvolvimento e gerenciamento de projetos de alta complexidade no setor de construção civil, a arquiteta e urbanista Veronica Polzer é consultora na área de gerenciamento de resíduos e políticas públicas. Desde 2016, atua junto com a Polzer Ambiental para a valorização dos resíduos sólidos gerados na CASACOR São Paulo. Na entrevista abaixo, ela explica as principais diferenças entre os termos lixo, resíduos e rejeitos, suas especificidades e o modo indicado a se lidar com eles de forma responsável e sustentável.

Veronica Polzer
A arquiteta Veronica Polzer iniciou os trabalhos na CASACOR em 2016 junto com uma empresa parceira e, desde 2018, atua como consultora da mostra junto com a Polzer Ambiental. (Divulgação/CASACOR)

Qual a diferença entre os termos resíduo e rejeito?

Resíduo é o termo correto para designar algo que foi descartado, que não tem mais utilidade. Porém, passa a ter utilidade em outro processo produtivo, como matéria-prima na indústria, por meio da reciclagem. Já o termo rejeito foi criado para designar algo que não pode ser reutilizado, reciclado ou compostado. Os dois termos foram definidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

E a palavra lixo?

Gosto da definição da bióloga Carla Grasiele Zanin Hegel sobre a diferença entre lixo e resíduo: “A palavra lixo, que associada a qualquer coisa imprestável, nociva e que não tem valor, passa a ser substituída por resíduo. Essa substituição dá a conotação de que não tendo valor ou utilidade para uns, para outros corresponderá a benefícios, ou seja, com um valor de uso positivo”.

O que geralmente é considerado rejeito?

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, rejeitos são “resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada“. Ou seja, é o papel higiênico, absorvente, fio dental, fraldas, elástico, esponja etc. Alguns materiais que são considerados rejeitos poderiam ser evitados, esse é o primeiro passo na hierarquia da gestão sustentável de resíduos, ou seja, a não geração.

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Quais os principais tipos de resíduos que existem?

Existem vários tipos de classificações, mas uma forma simplificada é separá-los de acordo com sua origem: RSU (resíduos sólidos urbanos); RCC (resíduos de construção civil); RSS (resíduos de serviços de saúde) e outros.

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Central de triagem da CASACOR São Paulo 2018. (Rafael Renzo/CASACOR)

Em obras da construção civil, quais são os principais tipos de resíduos gerados?

São justamente os do grupo RCC, como entulho (blocos de cimento, tijolos, placas cimentícias, telhas cerâmicas ou de fibrocimento, argamassas, pedras e revestimentos); gesso (drywall e gesso liso); madeira (pallets, chapas de madeira, móveis, retalhos, serragem); sucata metálica (perfis de drywall, chapas de ferro, metais em geral); e recicláveis (embalagens). Na CASACOR, os RCC são gerados principalmente na montagem e desmontagem da mostra.

Quais outros resíduos a CASACOR gera?

No grupo dos RSU, é basicamente o mesmo que se gera em domicílios e serviços: recicláveis (papel, plástico, metal e vidro); compostáveis (restos de alimentos e poda de jardim) e rejeitos em geral (papel higiênico, fio dental, chiclete…).

Qual é a forma mais sustentável de se lidar com os resíduos de obras?

Praticamente todos os materiais podem ser reaproveitados ou valorizados por meio da reciclagem e compostagem, se separados na origem. Por exemplo: na construção civil, se o gerador acondicionar todos os resíduos na mesma caçamba, o destino desses materiais acabará sendo o aterro sanitário. Porém, quando o gerador separa o entulho, o gesso e a madeira, todos esses materiais são recicláveis. O entulho pode ser triturado e transformado em agregado não estrutural para a construção de ruas e calçadas; o gesso é limpo e retorna para a construção civil; a madeira é transformada em cavacos e pode ser aproveitada na indústria para fabricação de outros produtos ou para biomassa (geração de energia).

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O mesmo processo pode ser aplicado em casa?

Sim. Se jogarmos no mesmo coletor as sobras de alimento e as embalagens, será impossível reciclar esse material. Separando os resíduos entre recicláveis e rejeitos e destinando cada um na sua coleta específica, reduzimos o que é destinado aos aterros sanitários, protegemos o planeta e geramos renda e emprego. E se ainda separarmos os orgânicos para a compostagem, reduziremos ainda mais a fração considerada como rejeito.

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Saquinhos adubo orgânico distribuído para os visitantes e funcionários da CASACOR São Paulo 2018. (Rafael Renzo/CASACOR)

E os rejeitos produzidos em casa?

Os resíduos que não podem ser reaproveitados podem ser substituídos. Por exemplo: esponjas descartáveis plásticas por esponjas naturais biodegradáveis; panos perfex por panos de algodão; máscaras de TNT descartáveis por máscaras laváveis reutilizáveis. Precisamos também sempre tentar achar alternativas ao uso do plástico. Melhor do que reciclar é não gerar o resíduo, pois a reciclagem também consome energia, água e recursos naturais.

Quais as ações sustentáveis da CASACOR que você destaca?

A CASACOR segue a hierarquia da gestão de resíduos, conforme a orientação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O primeiro passo é promover a não geração de resíduos, ou seja, engajar os espaços a utilizarem métodos construtivos que permitam o reaproveitamento dos componentes em outra construção e que os espaços sejam desmontáveis e não demolidos. Se os materiais não forem aproveitados em outra construção pelo responsável pelo espaço, eles podem ser doados para instituições. Já os componentes que não podem ser aproveitados, como materiais que quebraram na desmontagem, podem ser encaminhados para a reciclagem. A CASACOR também faz ações de logística reversa, devolvendo os produtos ao fabricante após o uso. Alguns exemplos são a devolução de todo o protetor de piso (Salvapiso) e da borra da tinta utilizada na fase da pintura (Coral).

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