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Lina Bo Bardi é tema de poesia visual em Londres

Atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres interpretam a arquiteta em duas fases da vida na vídeo-instalação de Isaac Julien, que também prepara um filme

Por Luciana Andrade
Atualizado em 17 fev 2020, 16h35 - Publicado em 12 jun 2019, 15h22
Fernanda Montenegro e Fernanda Torres no Restaurante Coaty, em Salvador (BA) (© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

De 7 de junho a 27 de julho de 2019, Londres recebe uma instalação cinematográfica sobre a arquiteta Lina Bo Bardi, italiana e naturalizada brasileira. Na Galeria Victoria Miro, o cineasta e artista Isaac Julien compartilha sua reflexão sobre o legado de um dos nomes centrais da arquitetura modernista latino-americana.

O espaço reúne uma série de fotografias e a vídeo-instalação com nove telas intitulada A Marvellous Entanglement (“Um emaranhado maravilhoso”, em tradução livre). Elas percorrem alguns dos edifícios mais emblemáticos de Lina Bo Bardi que, em diferentes fases de sua vida, é interpretada pelas atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. Mãe e filha recitam textos adaptados dos escritos de Lina.

Fernanda Montenegro no Restaurante Coaty, que foi uma das locações escolhidas em Salvador (BA) (© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

Exposição destaca projetos na Bahia e em São Paulo

O fio condutor da exposição na galeria londrina e seu título foram inspirados em uma frase de Lina Bo Bardi. ”O tempo linear é uma invenção ocidental; o tempo não é linear, é um emaranhamento maravilhoso onde, a qualquer momento, pontos podem ser escolhidos e soluções inventadas, sem começo nem fim”, afirmou.

Os vídeos foram filmados principalmente em Salvador (BA), em quatro edifícios da arquiteta: Espaço Coaty, Teatro Gregório de Mattos, Casa do Benin e Museu de Arte da Bahia. Lina Bo Bardi viveu na capital baiana entre 1959 e 1964, onde deixou um expressivo legado, aprofundou o contato com a cultura popular brasileira e com a realidade das secas e da pobreza.

A dimensão política e a consciência social atravessam sua extensa produção, da arquitetura ao mobiliário, passando por cenografias e até figurinos e joias.

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Instalação Tecnologia Pré-Histórica (© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

As filmagens também mostram outras perspectivas de prédios emblemáticos, como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), o SESC Pompeia e o Teatro Oficina. Estes ficam em São Paulo (SP), onde Lina morou na maior parte de sua vida, e são considerados marcos do modernismo brasileiro. Junto com o conjunto arquitetônico em Salvador, representam as ideias inovadoras e libertárias da arquiteta.

Vídeo-Instalação mostra o SESC Pompeia, em São Paulo (SP) (© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

Performances ressignificam a arquitetura

Isaac Julian estabeleceu uma estreita colaboração com artistas e coletivos brasileiros, que interagiram de várias formas com a arquitetura e acessaram diferentes significados dos espaços imaginados por Lina. No Coaty, que é uma ruína moderna na Ladeira de Misericórdia, foram realizadas performances do coletivo de arte brasileiro Araka. No Museu de Arte Moderna da Bahia, a obra original do coreógrafo Zebrinha foi executada pelo Balé Folclórico da Bahia.

Performance O que é um Museu?, na escadaria do Museu de Arte Moderna da Bahia (© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

Para o diretor, o legado de Lina Bo Bardi ainda não foi totalmente reconhecido e ele pode ser o ponto de partida para uma imersão na cultura brasileira. Enquanto reafirmam a vocação da arquitetura de Lina Bo Bardi para a interação social, essas ocupações e os registros de Isaac Julien reforçam a necessidade de conservar estes lugares.

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Na forma e no conteúdo, os trabalhos de Lina Bo Bardi permanecem ativos. Não param de estimular debates sobre questões pertinentes (no tempo dela e no nosso), como o uso político dos espaços, a crítica às elites, o papel social da arquitetura e outros temas.

(© Isaac Julien, cortesia do artista e Victoria Miro, Londres / Veneza/CASACOR)

Filme sobre Lina Bo Bardi vem por aí

Este não é o primeiro trabalho de Isaac Julien sobre Lina Bo Bardi. Em 2015, ele fez um filme chamado Stones Against Diamonds (“Pedras contra Diamantes”, em tradução livre), inspirado em uma carta escrita por Lina para seu marido, Pietro Bardi. Na correspondência, confessa sua paixão por gemas e pedras brasileiras ao natural, sem lapidação.

Stones Against Diamonds foi filmado dentro de cavernas de gelo na Islândia e desenhou uma linha do tempo da vida da arquiteta. Esta instalação artística, que chegou a ser exposta na Art Basel de Miami naquele ano, serviu como base para o filme Ghost of Lina Bo Bardi (“Fantasma de Lina Bo Bardi”). Com direção do próprio Isaac Julien e as atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres no elenco, está em fase de pós-produção e ainda não há data prevista para estrear.

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