Do projeto à obra, novas tecnologias ajudam arquitetos de todas as idades
Filipi Oliveira da MF+Arquitetos e Quintino Facci, ambos do elenco CASACOR, contam um pouco sobre como apostam em tecnologias para modernizar seus projetos
Acredita-se que o atual momento que o mundo está passando será conhecido anos mais tarde como o de uma “revolução tecnológica“. Trata-se de um fenômeno que está mudando a forma das pessoas encararem a realidade e que traz um impacto em todas as áreas da vida – desde as relações de trabalho, ao contato com os amigos e à forma como encaramos os nossos lares.
Várias profissões surgiram graças à tecnologia e muitas estão por vir, e mesmo aquelas carreiras tradicionais, que existem desde os tempos antigos, também passaram por mudanças. A medicina, por exemplo, nunca foi tão avançada e assertiva como nos dias de hoje, e parte dessa eficiência vem da modernidade dos procedimentos. Na arquitetura, a tecnologia também fez grandes mudanças, e os profissionais já estão se preparando para os próximos desafios.
A tecnologia como “evolução natural” na arquitetura
Os especialistas da CASACOR, sejam as novas gerações como também os veteranos, estão se adequando às tecnologias da chamada “arquitetura digital“. Para demonstrar o fenômeno, trouxemos duas personalidades que entendem do assunto: Quintino Facci, que participa em 2022 de sua primeira CASACOR São Paulo e é um jovem arquiteto recém-formado, e Filipi Oliveira, da MF+Arquitetos, que fundou seu escritório em 2009 (13 anos de atividade), em Franca.
Os dois arquitetos trabalham atualmente com diferentes sistemas que ajudam na rotina e operacionalização de seus projetos – inclusive, os da CASACOR. Para Filipi Oliveira, da MF+Arquitetos, a tecnologia está presente em todas as etapas do trabalho de sua equipe. “Usamos desde a concepção dos projetos até a execução dos mesmos”.
Quintino começou a enxergar a tecnologia como um meio para seu trabalho ainda na faculdade, quando começou a fazer estágio na área. “Eu percebi que todos os escritórios precisavam das imagens 3D para vender os projetos, porque era assim que o cliente conseguiria enxergar o que estava sendo vendido”. Ele relatou que percebeu que esse era um serviço ainda muito escasso na época porque poucos profissionais estavam aptos a fazê-lo.
Renderes ultrarrealistas
Uma das tecnologias mais queridinhas entre os profissionais da arquitetura são os renderes ultrarrealistas. Trata-se de um software capaz de reproduzir uma cópia fiel do projeto final digitalmente em escala reduzida. Dessa forma, é possível apresentar para os clientes com mais clareza as ideias e também para os profissionais envolvidos nas obras uma dimensão mais realista e com as medidas acertadas do que precisa ser feito na prática.
Filipi contou que utiliza os renderes como uma ferramenta que ajuda a expressar o que está buscando. “Um render ou uma imagem 3D deve ser sempre a expressão mais aproximada do ainda inexistente projeto, ele deve levar emoção e expressar de forma verdadeira o que se espera do projeto“.
Para a MF+Arquitetos, apesar da complexidade que os processos podem apresentar diversas vezes, a tecnologia precisa ser simples para se fazer presente nas demandas do estúdio. “Sem ser trabalhosa, de maneira que possa facilitar e ajudar a atingirmos o máximo de qualidade em cada etapa dos nosso processos”, explica Filipi.
Quintino Facci começou a se aperfeiçoar na renderização e buscar softwares modernos que reproduziam da maneira mais fiel possível o projeto – desde a estrutura, os acabamentos e até as cores escolhidas para o projeto final são idênticas às usadas nos renderes. “Quando apresento meus projetos, a pessoa fica até na dúvida do que é render e projeto final”.
Ganho em produtividade
É impossível não colocar a qualidade do tempo como uma das grandes vantagens de utilizar tecnologias na rotina do trabalho de um arquiteto. Para Quintino Facci, os renderes são desafiadores para serem manejados, por outro lado, o projeto pode ser entregue em até uma semana para o cliente aprovar.
A aprovação e modificação dos projetos também ocorre em tempo recorde, que talvez grandes nomes da arquitetura do passado nem acreditariam. Se o cliente deseja mudar algo, é mais simples de ajustar. Os erros também diminuem consideravelmente, já que as escalas usadas para a versão digital são muito fiéis aos do espaço físico – na visão de Quintino, não usar tecnologia pode aumentar as chances de erros, especialmente na parte mais estrutural de uma obra, como hidráulica, elétrica, etc.
O futuro é tecnológico
Os especialistas concordam que o futuro será tecnológico porque será um amadurecimento dessa nova era que já estamos vivenciando. Quem não estiver se adequando às ferramentas corre o risco de ficar para trás.
A visão chega a ser um pouco drástica – e pode até ser de fato –, mas a verdade é que os novos softwares criam uma verdadeira ponte entre as ideias de um arquiteto e o que o seu cliente deseja. Mais rápido, mais assertivo e menos árduo.
Mídias sociais
As redes sociais também entraram em cena e se tornaram excelentes canais de venda, divulgação e inspiração para vários profissionais, inclusive Filipi e Quintino. Os dois concordam que as redes são um ótimo canal para chegar aos seus clientes e atrair novos públicos – sejam aqueles que vão de fato fechar um processo ou admiradores do trabalho.
Quintino Facci afirma que as redes sociais são o que mais ajudam no seu trabalho. “Eu consegui mostrar meu trabalho, chegar a muitas pessoas. Em dois anos de escritório eu consegui atender influenciadores, e que se não fosse a internet isso não seria possível“. Ele entende que para os arquitetos mais veteranos, receber indicações acaba sendo mais natural, e por isso, aconselha que jovens arquitetos invistam em Instagram, Facebook e outras mídias para divulgarem seus trabalhos e criar conexões interessantes.
Filipi Oliveira, por sua vez, viu nas redes sociais uma forma de expandir o seu trabalho, inclusive, quebrando barreiras geográficas. “Hoje temos projetos em desenvolvimento em vários lugares do Brasil, inclusive projetos no exterior como Chile, Uruguai, Austrália, Paquistão e Grécia. Acreditamos que essas possibilidades de desenvolvermos novos projetos tão distantes só aparecem devido às redes sociais”, afirma.
Metaverso: um novo mundo de terrenos digitais
Entre uma das tendências tecnológicas que surgiram nos últimos tempos, o Metaverso é com certeza uma delas. O termo ganhou destaque no final do ano passado depois do Facebook Inc., empresa dona das redes sociais Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciar a mudança de nome para Meta.
O Metaverso é um universo totalmente novo com uma característica particular: ele só existe no mundo virtual. Nesse ambiente existem vários terrenos à venda, e o comprador pode viver no ambiente com seu avatar – e até declará-lo no Imposto de Renda será necessário.
Pode até parecer um simples jogo de videogame, nada muito diferente do que já foi visto anos atrás, mas várias marcas passaram a integrar esse espaço, como Adidas, Gucci, Balenciaga, entre muitas outras.
Inclusive, em 2022 aconteceu pela primeira vez um desfile da Fashion Week na plataforma virtual, uma das primeiras do Metaverso, o Descentraland.
Não demorou para que arquitetos mundo a fora começassem a se preparar para construir projetos nesses terrenos virtuais (e a produção pode ser mais complexa do que parece). Zaha Hadid foi um desses nomes, que projetou uma cidade inteira dentro do Metaverso.
No Brasil, o movimento está caminhando e começam a surgir entusiastas. Na CASACOR Rio 2022, Gisele Taranto apresentou um projeto no Metaverso. Mas os próximos passos ainda são um mistério, mas o novo universo já se mostra como uma verdadeira tendência (e que muitos já estão de olho sobre como integrar).